CRIPTOJUDEUS DA PORTUGUESA / CRYPTO JEWS OF PORTUGAL

por Eduardo Mayone Dias
Universidad de California, Los Angeles



LOS CRYPTOJEWS DE LA BANDA DE FRONTERAS PORTUGUESA

Incluso antes de la fundación de la nacionalidad, había importantes grupos judíos en Portugal, con sus sinagogas y su propio estilo de vida. Las penetraciones posteriores registradas por tierra, en dirección este-oeste, crearon otros núcleos a lo largo de la frontera con España, lo que permitiría un comercio más fácil, clandestino o no, con el país vecino. Durante la Edad Media, viviendo en todo el país, desempeñaron un papel importante en la sociedad portuguesa como banqueros, altos funcionarios, físicos, empresarios y artesanos. La Corona dependía de ellos para obtener grandes préstamos en tiempos de crisis. Hasta el reinado de D. Dinis, de hecho, disfrutaron de una protección real considerable y ventajas significativas. Los judíos también desempeñaron un papel destacado en la preparación de las navegaciones y más tarde en la colonización de Brasil. Sin embargo, su situación siempre fue precaria, dado el delicado equilibrio entre la protección real y el intenso antagonismo de la mayoría de la población. A finales del siglo XV, la historia dio un giro dramático para ellos. En la vecina España, la política antisemita de los Reyes Católicos había crecido, basada en el deseo de unificación religiosa. Por disposición del 31 de marzo de 1492, se determinó que los judíos que no se convirtieran tendrían que abandonar el país a fines de julio. Los cálculos sobre el número de quienes se establecieron en Portugal varían, según las fuentes, entre 30,000 y 90,000. Muchos se establecieron en las áreas fronterizas de las provincias de Trás - os-Montes y Beira, donde se establecieron inicialmente campamentos o campamentos para alojarlos temporalmente y dónde podrían buscar el apoyo de las comunidades judías que ya están allí.

Pouco depois o projectado casamento do rei D. Manuel com D. Isabel, filha dos Reis Católicos, levou-o a aceitar a exigência espanhola de expulsar todos os judeus residentes em Portugal que não se convertessem ao catolicismo, num prazo que ia de Janeiro a Outubro de 1497. Na realidade D. Manuel não tinha qualquer interesse em expulsar esta comunidade, que então constituía um destacado elemento de progresso nos sectores da economia e das profissões liberais. A sua esperança era que, retendo os judeus no país, os seus descendentes pudessem eventualmente, como cristãos, atingir um maior grau de aculturação. Para obter os seus fins lançou mão de medidas extremamente drásticas, como ter ordenado que os filhos menores de catorze anos fossem tirados aos pais a fim de serem convertidos. Depois, quando chegou a data do embarque dos que se recusavam a aceitar o catolicismo, alegou que não havia navios suficientes para os levar e determinou um baptismo em massa dos que se tinham concentrado em Lisboa à espera de transporte para outros países. Muitos foram arrastados até à pia baptismal pelas barbas ou pelos cabelos. Ao que parece, cenas semelhantes registaram-se noutras cidades do país. Não existe contudo documentação oficial que confirme estes factos.

Para além dos que anteriormente tinham aceitado o baptismo sob pressão das circunstâncias, Portugal passava então a contar com uma enorme massa de cristãos-novos extremamente relutantes a aceitar o estatuto que lhes fora imposto. Para muitos a conversão pouco significava sob o ponto de vista moral, já que a lei judaica pode ser interpretada no sentido de que a preservação da vida toma precedência sobre uma quebra de preceitos religiosos. O princípio do kol nidre, embora sem força de lei e aliás contestado por alguns teólogos, permite inclusivamente a invalidação de votos. Sob um ponto de vista mais pragmático a conversão permitia manter a unidade do agregado familiar e abria horizontes para uma futura emigração para países onde existisse maior tolerância. Outra alternativa seria a fixação em localidades onde não fosse conhecida a ascendência hebraica da família. Entre estas localidades, as que estivessem perto da fronteira ofereciam decididas vantagens, dado o seu isolamento.

La situación de los conversos era ahora, por supuesto, mucho más trágica. Antes, como judíos, tenían absoluta libertad para practicar su religión. Ahora, como cristianos por ley, no podían seguir la adoración tradicional excepto en secreto, bajo pena de graves consecuencias. Escéptico sobre la ortodoxia de los conversos, especialmente los forzados, D. Manuel promulgó el 30 de mayo de 1498 una medida en el sentido de que durante veinte años no deberían ser acosados ​​por sus convicciones o prácticas religiosas.

Em 1536, contudo, seu filho, o rei D. João III, conseguiu que fosse introduzida a Inquisição em Portugal e pouco depois iniciou--se a repressão de todos tão bem conhecida. Os tribunais inquisitoriais começaram a perseguir os cristãos-novos com acusações de judaísmo, homossexualidade, bigamia, bruxaria ou pacto com o diabo. Em Lisboa e noutras cidades tinham lugar autos-de-fé, verdadeiros espectáculos públicos, por vezes com a assistência da família real. Ocasionalmente a ira popular era despertada atribuindo-se aos "marranos" a culpa de desastres naturais como a peste, terramotos ou incêndios. Por consequência, e apesar de restrições postas à emigração de cristãos-novos, registou-se um grande êxodo para o estrangeiro ao longo do século XVI, aliás começado logo após um massacre registado em Lisboa no ano de 1506. Este êxodo abrangeu especialmente a élite mercantil, aquela que mais integrada se encontrava nas estruturas capitalistas da época.

No século seguinte a situação não melhorou. O povo era incitado por eclesiásticos a maltratar os judeus, raça impura e maldita. Em 1680 um padre franciscano percorreu as igrejas da Covilhã, onde existia uma importante comunidade hebraica, encorajando a multidão a "que os queimassem e que os apedrejassem e que os matassem". Por outro lado era constante a luta dos cristãos-novos para fazer valer os seus direitos e pela obtenção de privilégios, em especial o acesso a lugares públicos, ao magistério universitário e às estruturas eclesiásticas, muitas vezes obtidos à custa de pesadas contribuições.

Depois da restauração da independência, em 1640, a Companhia de Jesus entrou em oposição ao Santo Ofício e tentou conseguir uma melhor situação aos cristãos-novos. No entanto foi só pela segunda metade do século XVIII e mais particularmente em 1821, quando se decretou a abolição do Santo Ofício, que os descendentes dos conversos conseguiram por fim ver-se livres das perseguições oficiais. Ao longo dos anos a élite mercantil tinha sido em grande parte destruída. A confiscação dos bens dos acusados em processos inquisitoriais foi sem dúvida um poderoso factor explicativo da especial atenção que o Santo Ofício dirigiu sobre esta classe.br Será de presumir que entretanto muitos dos que não puderam emigrar, certamente as famílias mais pobres, as que não tiveram recursos para comprar a liberdade de sair do país, buscaram refúgio em regiões montanhosas da faixa fronteiriça com a Espanha, o mais longe possível dos centros de repressão. Aí integraram-se em comunidades de ascendência judaica já existentes, sobretudo originárias de núcleos de judeus expulsos de Espanha em 1492. Vivendo entre cristãos, tiveram de aparentar na superfície que seguiam os mesmos preceitos que eles. O culto mosaico continuava no entanto a ser observado, sob o máximo segredo. E assim a doutrina e as tradições básicas do credo judaico foram mantidos numa vida subterrânea por cerca de quinhentos anos. Era tal o isolamento que muitos pensavam que as suas comunidades eram os únicos núcleos judeus do mundo inteiro.

Por outro lado a ignorância cristã sobre a vida dos criptojudeus, conhecidos entre as populações locais pela simples designaçäo de judeus, levou à criaçäo das mais absurdas lendas e por consequência de um ambiente de franca hostilidade contra eles. Já no século XVII uma obra intitulada Sentinela contra os Judeus ecoava a crença popular bastante disseminada de que alguns hebreus, os descendentes de rabinos, tinham um pequeno rabo. As alusões a assassinatos de crianças cristãs para sacrifícios rituais eram comuns. Em tempos mais modernos disseminou-se o mito dos "abafadores", ou seja aqueles que alegadamente sufocavam um moribundo para evitar que ele divulgasse segredos ao padre que o viesse confessar. Este mito chegou mesmo a encontrar eco num conto de um dos mais destacados escritores da actualidade, Miguel Torga. Até no cancioneiro popular se encontram reflexos destas fabricações: "Esta casa é täo alta, / forrada de pau espinho: / O homem que nela mora / é judeu e tem rabinho" ou "Esta casa cheira a breu: / mora nela algum judeu".

Presentemente encontram-se vestígios de núcleos criptojudaicos em várias localidades da zona raiana de Trás-os-Montes e da Beira, sendo Belmonte o mais conhecido. Calcula-se que dos cerca de quatro mil habitantes da vila, quinhentos ou seiscentos tivessem sido de ascendência judaica. O seu número foi no entanto reduzido pela onda de emigração que nas décadas de sessenta e setenta afectou Portugal, muito em particular nas zonas nordeste e centro-este do país, assim como por casamentos fora do grupo. Até há pouco tratava-se na sua maior parte de gente humilde, mal distinguível na aparência do povo comum da região. Eram sobretudo artesãos (muitos deles dedicavam-se à indústria dos cortumes), vendedores ambulantes ou pequenos comerciantes. Poucos se dedicavam à agricultura, embora vivessem em zonas rurais. O seu grau de escolarização näo ia acima do nível geral dessas zonas, o que significa que tradicionalmente se tivesse registado um alto índice de analfabetismo. Nos últimos anos, contudo, desenvolveu-se uma relativamente próspera classe mercantil que gira à volta do negócio de confecções.

O culto judaico encontra-se agora reduzido à celebração do Sabbath, da Páscoa e do Yom Kipur. A liturgia, repetida de memória e por longos anos orientada por mulheres, muitas vezes analfabetas, encontra-se, como é natural, muito deturpada e contaminada por práticas cristãs.

As primeiras referências escritas aos modernos criptojudeus, aliás bastante vagas, parecem ter sido feitas por Cardozo de Bethencourt num artigo publicado em The Jewish Cultural Review, que no entanto baseou apenas em informações recolhidas em Lisboa. Curioso é, contudo, que lance já a ideia de um esforço de reconversão:
When one sees an attempt to re-establish the Mosaic Law among the Jews of Kai-feng-fu, one asks oneself if the same work could not be undertaken, with more success, among the small groups of New Christians in the North of Portugal. The greatest obstacle would be, as in China, the circumcision of adults. On the other hand the law punishes by an imprisonment of one or two years any one who attempts to make proselytes for any other than the State religion, Catholicism.

A sugestão de Cardozo de Bethencourt não causou qualquer apreciável impacto. A atenção pública para os núcleos criptojudaicos só se despertou na realidade quando um judeu polaco, o engenheiro Samuel Schwarz, foi encarregado pelo governo português de estudar os recursos mineiros da faixa fronteiriça do noroeste do país. Chegado em 1915, percorreu várias povoações da zona raiana e, investigadoe interessado na história do judaísmo, deu-se logo conta da existência destes grupos. A princípio encontrou enorme dificuldade em conseguir a sua confiança. Os criptojudeus não podiam conceber que um judeu se assumisse publicamente como tal. Para o experimentar, pediram-lhe que recitasse algumas orações judaicas. Como näo as sabia em português, a desconfiança subsistiu. No entanto ao pronunciar a Shema, a confissão de fé, em hebraico, idioma que os criptojudeus nem sequer sabiam que existia, foi reconhecida a palavra Adonai (Senhor) e isso fez com que Samuel Schwarz passasse a ser aceite como correligionário. Recolheu então várias tradições orais e conseguiu reunir alguns livros manuscritos de orações. À base destas experiências publicou em 1925 Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX. Nele aludiu à intromissão de elementos católicos nos ritos judaicos e a outras divergências em relação à ortodoxia.

A notícia da descoberta destas comunidades causou certa sensação nos círculos judaicos internacionais. Alertada a comunidade israelita de Lisboa da existência destes "heréticos", lançou-se o alvitre de fundar na capital uma escola onde os filhos dos criptojudeus fossem instruídos na lei mosaica tradicional, com a esperança de que a ortodoxia se pudesse eventualmente restabelecer, depois que regressassem aos seus lares. Um apelo de fundos para este fim, dirigido a comunidades israelitas do exterior, levou ao envio a Portugal, em Janeiro de 1926, do historiador, jornalista e diplomata Lucien Wolf com o objectivo de estudar a viabilidade do projecto. Wolf passou quatro semanas em Portugal visitando, na companhia de Samuel Schwarz, os núcleos criptojudeus de Belmonte, Caria, Covilhã e Porto e entabulando conversações em Lisboa com os dirigentes da comunidade israelita e com entidades a ela alheias, incluindo o próprio Presidente da República e o Presidente do Conselho de Ministros.

Nesse mesmo ano Wolf apresentou à Alliance Israélite Universelle e ao Council of the Anglo-Jewish Association um relatório sobre as suas observações. Wolf deu a saber que entre estes grupos não se poderiam encontrar provas de que conhecessem algo da doutrina e da ética judaicas ou da história dos judeus, com a excepção da Bíblia e de alguns episódios relacionados com a Inquisição. Embora os seus ritos funerários estivessem relativamente próximos dos praticados dentro do judaísmo oficial, as orações näo correspondiam às da liturgia hebraica e eram todas pronunciadas em português. Dado o grande analfabetismo do grupo, a doutrina baseava-se na tradição oral, transmitida por linha feminina. Existia no entanto entre eles uma sólida consciência do seu judaísmo. Entretanto, e com o auxílio de círculos hebraicos do exterior, ia tomando corpo na cidade do Porto um activo movimento de integração dos criptojudeus. O catalizador deste movimento foi o Capitão Artur Carlos de Barros Basto, um oficial do Exército Português nascido em 1887 que se tinha brilhantemente distinguido durante a Grande Guerra nos campos da Flandres e recebido as mais altas condecorações nacionais e estrangeiras. Barros Basto vinha, por parte de seu pai, de uma família de cristãos-novos de Amarante. O seu avô era inclusivamente criptojudeu praticante. No desejo de reverter à fé dos seus antepassados Barros Basto apresentou-se um dia na sinagoga sefardita de Lisboa e declarou-se judeu. Não tendo contudo conseguido ser admitido na congregação, aprendeu hebraico e deslocou-se a Marrocos para receber instrução religiosa. Em Tânger foi circuncidado e oficialmente aceite dentro da religião judaica, adoptando o nome de Abraham Israel Ben-Rosh. De regresso à cidade do Porto desenvolveu uma notável acção no sentido de defender os interesses da pequena comunidade israelita aí residente, umas dezassete famílias originárias da Europa Oriental. Foi devido aos seus esforços que se construiu uma sinagoga na cidade. Fundou também uma yeshiva, cujas actividades se iniciaram com cinco jovens vindos da zona fronteiriça. Ao longo de uns dez anos receberam aí instrução religiosa cerca de noventa adolescentes criptojudeus. O programa da yeshiva incluía aulas de hebraico, português, francês, história judaica, teologia, apologética, homilética e liturgia cerimonial. No entanto nunca se conseguiu formar um único rabi e os alunos, regressados às suas terras de origem, em breve esqueceram os ensinamentos recebidos, tendo alguns mesmo chegado a manifestar sentimentos anti-semíticos. Barros Basto organizou também sessões de oração e esclarecimento em Belmonte, Covilhã, Bragança e outras localidades, sempre no seu afã de trazer "marranos" ao judaísmo oficial. A primeira "reconversão" teve lugar já em 1926 e foi seguida por algumas outras em anos subsequentes. Em termos gerais, todavia, os criptojudeus nunca se sentiram atraídos pela ortodoxia, cujo rigorismo repudiavam, e mantinham-se firmes na sua forma de culto, que consideravam como a única verdadeira.

Perseguido pelas suas convicções, sofrendo uma campanha que a Acção Católica lançou contra ele, Barros Basto acabou por ser julgado em conselho de guerra por actos atentatórios à moral. Esses actos tinham consistido em defender a prática da circuncisão para os criptojudeus que aceitassem a lei oficial. Também os seus acólitos sofreram perseguições, em alguns casos perderam os seus empregos e foram acusados de ligações com a Maçonaria. O movimento chegou a ser caracterizado como uma tentativa de descristianização por um jornal católico.

Apesar do intenso empenhamento de Barros Basto, todas as tentativas de "purificar" a fé dos criptojudeus falharam, devido a algumas dissensões entre os dirigentes da sinagoga do Porto e críticas vindas de círculos judaicos estrangeiros mas sobretudo em virtude do enorme arraigamento às tradições criadas pelos "marranos" no sistema de segredo e da funda desconfiança em relação a contactos com elementos alheios ao grupo. Pelos fins da década de trinta os esforços nesse sentido foram abandonados.

Como é óbvio, para além de uma superficial aceitação do catolicismo, os criptojudeus tiveram de lançar mão de variadíssimas estratégias de camuflagem para a sua sobrevivência. Uma das primeiras foi o abandono da circuncisão, já que evidentemente o circunciso caído nas malhas do Santo Ofício poderia ser identificado como de ascendência judaica. Também desapareceram todos os textos em hebraico e todos os objectos relacionados com o culto, como sejam menorahs, mezuzahs, mizrahs, shofars, candelabros, as facas cerimoniais usadas para a circuncisão ou os mantos de oração e de cobertura da Torah.

Outra táctica, talvez a mais rigorosa e duradoura, foi o secretismo. O culto tem-se até hoje realizado dentro de casa, com as portas e janelas bem cerradas. Em muitos lugares a candeia de sábado é colocada dentro de um recipiente de barro, de modo que a luz não possa ser detectada do exterior. Também qualquer acto ritual passível de chamar a atenção pública foi abandonado. Deixou pois de se celebrar a Festa dos Tabernáculos, durante a qual se erguem pequenas cabanas no exterior das casas, assim como o Rosh Hashana, o Purim e a Hanucá, e de se praticar a degolação do cordeiro pascal e o abate ritual de cabeças de gado. Abandonados também foram o mikvah ou banho ritual, assim como os cânticos religiosos, que podiam ser ouvidos do exterior.

Para iludir primeiro o Santo Ofício e depois a curiosidade dos "góios", como os cristãos-velhos são designados, a preparação do pão ázimo e a celebração da Santa Festa ou Páscoa judaica são adiadas por alguns dias. A adopção de nomes portugueses foi geral, em certos casos até com preferência por alguns de implicações cristãs. Cruz é um deles. E tão comum entre os criptojudeus da Covilhã que alguém comentou jocosamente que lá existiam mais Cruzes do que no cemitério. O casamento dentro do grupo, rigorosamente praticado até ao fim do século dezanove, assegurava a manutenção das tradições e salvaguardava o sigilo das práticas rituais.

Determinadas opções no sistema alimentar representaram também uma tentativa de mimetismo. Como a rejeição de certos alimentos denunciaria a prática do antigo credo, os criptojudeus passaram a comer carne de porco, embora se abstenham de o fazer durante o Sabbath e nos dias santos do calendário judaico. Não se consomem contudo morcelas nem outros enchidos que contenham sangue e para manter as aparências criaram-se mesmo as "alheiras" ou "tabafeiras", uma espécie de chouriço confeccionado sem carne de porco e com tripa de vaca. Igualmente são repudiados o coelho, a lebre e o peixe sem escamas. A carne também é repetidamente lavada para se lhe extrair o sangue.

O cerimonial associado aos ritos de passagem acusa vários graus de desvio em relação à prática tradicional sefardita. No que diz respeito ao nascimento, a colocação de uma cabeça de galo por cima da porta do quarto da futura parturiente, a proibição de a mãe se descobrir ou mudar de roupa por trinta dias após o parto e o hábito de atirar uma moeda de prata na água do primeiro banho do recém-nascido näo têm paralelo nos costumes dos grupos residentes em outros países. Contudo, a oração pronunciada oito dias depois do nascimento, em que o nome da criança é mencionado, representa um resquício do serviço religioso da circuncisão, durante o qual se anuncia o nome a ser dado ao menino.

O bar mitzvah deu lugar a uma cerimónia de iniciação, celebrada aos sete anos e não aos treze, como manda a praxe oficial. Outra divergência em relação a esta praxe é o jejum de vinte e quatro horas a que o adolescente tem de se submeter. Nos ritos ligados ao casamento o jejum dos noivos corresponde a um costume que se abandonou na prática moderna. Entre os criptojudeus existem as tradições de jejuarem também dois amigos do noivo e duas amigas da noiva, de cobrir as mãos unidas dos nubentes com um pano de linho e de se servir uma refeição composta de sal, ervas amargas, mel, uma maçã e um copo de vinho, o que não tem correspondente no uso sefardita actual. O costume de os noivos comerem do mesmo prato e beberem do mesmo copo durante o banquete, o que simboliza a sua união, integra-se contudo no uso tradicional. Quanto aos ritos funerários, vários são ainda observados com relativa pureza. O corpo é lavado e vestido de branco e guarda-se o shivah ou os sete dias de luto prescritos pela tradição. Inclusivamente muitos dos homens não se barbeiam por um período de trinta dias após o falecimento de um parente próximo. As mulheres devem trazer a cabeça e mesmo o rosto oculto com um xaile, uma prática que corresponde à dos sefarditas de Marrocos. Também se deve manter acesa uma luz na casa durante um ano. A roupa do falecido é oferecida a um pobre, que também é convidado para comer com a família.

Outras práticas são nitidamente criptojudaicas. Uma delas é a de "desintreflar" ou seja purificar a casa depois de um falecimento. Como é fácil imaginar, o que tornou a casa impura foi a visita do sacerdote católico que, a fim de manter as aparências, havia sido chamado para ministrar os últimos sacramentos. Os sefarditas do exterior limpam a casa depois do saimento, mas obviamente não pelas mesmas razões. Também parece ser costume exclusivo do grupo cortar as unhas ao cadáver (ou pelo menos duas) e embrulhá-las num pedaço de pano ou papel, colocar um pedaço de pão no caixão e passar uma moeda e um pedaço de pão pelos olhos do morto. Uma variante deste último costume é passar-lhe pela boca uma moeda de ouro ou prata, que depois é dada a um pobre. É usual também lançar fora a água existente na casa do defunto, já que o anjo da morte lavou nela a sua espada, colocar farinha e comida à volta da cama e não comer carne por uma semana após o falecimento. Ainda outro costume é o de servir pãezinhos acabados de tirar do forno, na esperança de que a alma do defunto saia tão depressa do purgatório - um conceito predominantemente originário do cristianismo - como o bafo quente sai do pão.

Quanto à observância do calendário religioso, em vários aspectos segue-se a ortodoxia judaica. São rigorosamente guardados pela maioria das famílias o sábado, a Páscoa e o Dia Puro, ou seja o Yom Kipur. Durante a Páscoa faz-se uma refeição ao ar livre, no campo, uma prática seguida também por sefarditas levantinos. Tal como determina a regra judaica usa-se nesta ocasião loiça especial. As orações são sempre rezadas com o corpo voltado na direcção do Oriente. Uma tradição que não se observa no exterior é a "oração da água", pronunciada junto a um rio na véspera da Páscoa, enquanto se bate a água com um ramo de oliveira. Este ramo será depois utilizado para acender, na Páscoa seguinte, o fogo em que coze o "pão santo", ou seja o pão ázimo. A preparação deste pão obedece aos preceitos convencionais, que incluem lançar ao fogo três pequenos pedaços de massa.

Algunas fuentes dicen que la fiesta de Yom Kipur entre los cripto judíos comenzó el día anterior con la capa, durante la cual golpearon la cabeza varias veces con un gallo vivo. Esta práctica corresponde aproximadamente a la de los Kaparoths en el judaísmo oficial, de hecho considerado por algunos teólogos como una forma de superstición y paganismo. El ritual, que también tiene lugar en la víspera de Iom Kipur, consiste en tres rondas de la cabeza con un gallo joven, mientras se recitan versos de las Escrituras. El gallo es luego asesinado y comido por los participantes o entregado a una persona pobre.

Outra prática criptojudaica também sem dúvida relacionada com esta era uma cerimónia antes realizada com certo secretismo nas margens do rio Sabor, na região de Bragança, durante a noite de S. João e que era conhecida como a Festa do Galo ou Comida do Galo. Nesta cerimónia comia-se um galo e depois lançava-se ao rio algo que flutuasse, como um pedaço de tronco de árvore, gritando então os assistentes: "Aí vai o Messias!". Messias!"
O jejum do Yom Kipur é quebrado com três pedaços de pão que se mastigam e depois se lançam ao fogo, o que possivelmente estará relacionado com a prática dos sefarditas levantinos de o quebrar com uma refeição ligeira que inclui pão untado com azeite. O jejum da Rainha Ester, que precede a festa do Purim, também é observado, embora a festa não se celebre actualmente. O seu abandono radica sem dúvida no carácter de festividade pública que assume nas comunidades judaicas do exterior.

Como antes se mencionou, contrariamente à norma, as sessões de oração são de um modo geral orientadas por mulheres, que recebem o nome de rezadeiras. Nestas ocasiões as mulheres cobrem a cabeça com um pano branco, plausivelmente um reflexo do preceito judaico que proibia às mulheres mostrar o cabelo a qualquer pessoa que não fosse o marido. Existe um vastíssimo acervo de orações de vaga ressonância hebraica mas criadas já dentro do período de secretismo. Aqui e além podem surgir termos e expressões hebraicas. Um exemplo é a frase, absolutamente ininteligível mesmo para os criptojudeus "Adunai Sabaat Malcolares Cobrado" que provém de "Adonai Tzeva'ot m'lo kol ha'aretz k'vodo" (Senhor dos Espíritos, toda a terra está cheia da sua glória). Um aspecto a notar é o uso nestas orações da forma "Deus", repudiada pelos antigos judeus portugueses em favor de "Deu", dada a sugestão de pluralidade que o s final poderia sugerir. A utilizaçäo pelos criptojudeus do vocábulo corrente entre os cristãos-velhos representa decerto outra estratégia de camuflagem.

A religião católica tem sido aceite na superfície, apenas como arma de defesa no passado e como busca de harmonia social no presente. Os criptojudeus têm sido baptizados, casados e enterrados segundo o ritual católico mas estas cerimónias têm sido precedidas por outras que seguem a chamada Lei Velha. Nas casas podem-se encontrar quadros e imagens religiosas mas isso serve apenas para despistar os visitantes.

O repúdio interior do catolicismo é frequente. Alguns autores referem que certas mulheres cosiam um crucifixo no interior da barra da saia e ao andar iam repetindo mentalmente a frase "Quanto mais te arrasto mais vontade tenho de te arrastar". Também ao entrar na igreja se evoca mentalmente uma fórmula de ressalva: "Nesta casa entro mas não adoro pau nem pedra mas sim um Deus que tudo governa". A mesma reserva é expressada por outras orações. No momento de rezar o Padre Nosso na igreja, muitos murmuram para si mesmos a seguinte oração: "Padre nosso um, Padre nosso dois, Padre nosso três, Padre nosso dez. Morra a lei de Cristo e viva a lei de Moisés". Ao aproximarem-se do confessionário pedem auxílio sobrenatural para evitar qualquer indiscrição: "Aos pés do cura me sento, a espada de Israel se meta entre mim e ele, para que me não procure senão o que eu lhe quiser dizer". E antes de tomar a hóstia repetem: "Cochicho cochichinho, não quero teu pão nem teu vinho, quero somente andar na lei de Moisés vivo".

Verifica-se no entanto uma certa dosagem de sincretismo religioso, seja ele devido às anteriormente referidas estratégias de camuflagem ou a uma quase inevitável interferência do catolicismo, a única religião oficialmente ensinada e divulgada. Em algumas casas podem observar-se retratos de "Santo Moisesinho" e de "Santa Ester", esta de algum modo paralelizada com a Virgem Maria. "Santa Ester" é evidentemente a Rainha Ester, de facto uma criptojudia, casada com um rei persa, que salvou os seus correligionários das maquinações de um perverso valido.

Reza-se também uma paráfrase do Padre Nosso, composta em quadras cujo último verso é um fragmento da oração cristã. Outra oração é dirigida a São Rafael, quase certamente uma transposição do arcanjo Rafael, que na tradição judaica está associado à cura dos doentes. Em Dezembro celebra-se o "Natalinho", que sem dúvida representa um vestígio da Hanucá ou Festival das Luzes.

O isolamento do grupo não se alterou substancialmente com a vinda do presente século. O clima anticlerical resultante da implantação da República em 1910 aliviou um pouco a situação e vários criptojudeus deixaram então de participar em actos públicos católicos. Contudo, durante a Segunda Guerra Mundial, a perspectiva de um alinhamento político do regime salazarista com o hitleriano, levou a grandes apreensões e intensificou o secretismo. Hoje em dia, na esteira da Revolução de 1974, que liberalizou as atitudes religiosas, nota-se um pouco mais de abertura e algo de interesse pelo conhecimento da tradição judaica, chegando os criptojudeus a informar-se junto das sinagogas de Lisboa das datas exactas dos dias santificados.

Em Belmonte fundou-se uma Casa da Comunidade, que funciona como sinagoga. Como não existia rabino, os serviços eram orientados por um líder comunitário, ainda jovem. Muitos dos membros do grupo, entre os menos idosos, assumem-se já abertamente como judeus e foram circuncidados. Um ou outro visitou já Israel. Algumas mulheres usam ao peito uma estrela de David pendente de um fio. Com o progressivo interesse pelo Retorno, como o movimento de reconversão é designado, intensificou-se uma vida comunitária em moldes quase ortodoxos. Contrataram-se os serviços de um rabino, construi-se um mikvah e em 1996 foi inaugurada uma sinagoga.
O sector etário mais alto desta comunidade conserva-se ainda, no entanto, virado para um remoto passado. A ele se pode aplicar o que Dan Ross, referindo-se aos criptojudeus portugueses em geral, escrevia em 1984: "Today the Marranos are just a historical curiosity, a ghost of their former selves". A sua atitude, fincada num histórico atavismo, tem de facto algo de fantasmal.

O hermetismo que ainda tão intensamente subsiste é uma das mais flagrantes componentes dessa atitude. É curioso observar como, por exemplo no caso de Belmonte, qualquer pessoa possa de imediato apontar quem é "judeu" ou quem näo o é, e sem embargo persista uma impassável barreira defensiva erguida em relaçäo a não-judeus. A longa história de perseguições fez cristalizar o receio, embora na actual conjuntura política o perigo seja de todo inexistente. É contudo tal o peso da tradição, a quase fossilização da sua mundivivência, que ainda há poucos anos se rezava pela "salvação dos irmãos metidos nas casas da Inquisição".

O facto de os criptojudeus se terem radicado em zonas fronteiriças levou a uma seclusão que foi fora de dúvida um dos mais poderosos factores da manutenção da sua identidade como um grupo ferrenhamente apegado às suas convicções e que na realidade gerou uma nova forma de judaísmo. A admirável tenacidade com que têm preservado o seu estilo de vida, frente a quase insuperáveis obstáculos, é a um tempo a sua força e a sua debilidade, posto que será factível admitir que o seu endogenismo não possa assegurar para além da presente geração a sobrevivência face às crescentes solicitações de uma sociedade moderna.

THE JEWS, NEW CHRISTIANS AND CRYPTO JEWS OF PORTUGAL

By the time Portugal acquired her independence, circa 1139, sizable Jewish communities had already been established in the country. Throughout the Middle Ages and early Renaissance, Jews and New Christians constituted the intellectual and economic elite of the country. They were the physicians, astronomers, cartographers and royal treasurers, tax collectors and advisers. Many wore fine silk clothes and gilt swords and rode beautiful horses. They embodied the concept of capitalism in a mainly rural and feudal society. 

Their lives, however, were always influenced by two contradictory factors: most of the time they enjoyed preferential royal protection and all the time they suffered a violent hostility from the Church and the common people. 

Although legislation regulating their lifestyle was occasionally extremely restrictive, monarchs often granted them special privileges. They were exempted from military service, and contrary to the situation in Spain, were allowed to own real estate.
 
Whether they were always enforced or not, strict laws protected them. Individuals who referred to Jews in derogatory terms could be fined. Punishment for those attacking ghettos included execution. After a particularly cruel massacre occurred in Lisbon in 1506, in which about 3,000 New Christians were murdered, King Manuel ordered the hanging of 45 of the main culprits, including two Dominican friars who had incited the mob.

On the other hand, Jews were regarded by the Church and the masses with the usual European misconceptions of the time: they poisoned wells, killed Christian babies to "celebrate" black masses with their blood, brought about the plague and earthquakes, prostitution and sodomy were prevalent in their midst, and Jewish men had tails and menstruated. 

Thousands of Jews entered Portugal after their expulsion from Spain in 1492 subject to the payment of a sizable head tax. However, a few years later, King Manuel of Portugal, pressured by the Catholic Kings whose daughter he wanted to marry, also gave all Jews residing in Portugal the choice between conversion or expulsion. The king did not actually want to be deprived of Jewish knowhow and economic potential, so when the deadline for conversion or departure approached, he had thousands of Jews congregated in Lisbon for embarkation to the country of their choice, but at the last minute informed them that no ships were available and had them dragged to church to be forcibly baptized. 

Although the anussim were granted a twenty year period in which their beliefs and practices would not be investigated, soon afterwards, in 1536, the Inquisition was established in Portugal. What followed for over two hundred years need not be related.

It was only after the liberal revolt in 1820 that the so called Holy Office was extinguished. In the following years Jews trickled in, mainly from Gibraltar and Morocco. They were mainly merchants, who revolutionized trade practices in the country. Their descendants, and others who later emigrated to Portugal including refugees from Nazi Germany and occupied countries, although scarce in number, now only about 1,500 have distinguished themselves in banking, medicine, education and other activities.

Fear of the Inquisition has marked some secret Jewish communities up to present times. Isolated in mountainous areas near the Spanish border, they have maintained a sketchy Judaism under the pretense of being Catholics. Deprived of rabbis, temples, yeshivas or religious books, they lost much of the previous orthodoxy.

When they were discovered by a Polish mining engineer, Samuel Schwarz, over seventy years ago, they believed they were the only Jews in the whole world and did not know that the Hebrew language existed.

At first they refused to believe that Schwarz was Jewish, as a Jew would never admit openly to his religion. His final acceptance only came when he recited Shema Israel for them and they were able to recognize the word Adonai. 

They had been forced to abandon the practice of circumcision and the celebration of any public festivities. In order to mislead the inquisitors they celebrated Passover and Yom Kippur a few days before or after official dates, hid the Shabbat lamp inside a clay pot and had women lead their services. Catholicism made some unavoidable inroads in their lives: they worship Saint Moses and Saint Queen Esther, celebrate an occasion they call Little Christmas (roughly coinciding with Hannukah) and use a Judaized form of the Lord's Prayer.

They reluctantly attend some Church services, but do so under mental reservations. A formula still murmured to this day upon entering a Catholic Church goes approximately like this: "I enter this house, but I do not adore sticks or stones, only the G-d of Israel."
 
From poor peddlars riding mules from village to village along mountain roads, many of them have in recent years become prosperous merchants and owners of garment factories. Also a movement to return to official Judaism has picked up momentum, mainly among the younger generation of their rapidly disappearing main community, in the town of Belmonte.

The local Crypto Jewish community dwindled from a few hundred to about 150 in our days. (Emigration and marriage outside the group mainly accounted for this decline). However, out of the remaining 150, about half has opted for "Return", as their expression for reconversion goes.
Several of them have visited Israel and learned Hebrew. They now have a synagogue, a rabbi and the only mikvah in Portugal. A feud with the Belmonte City Hall is still going on in regard to concession of land for a Jewish cemetery. 
At present probably only some 100 Crypto Jews survive in the whole country. The admirable tenacity with which they have preserved their spiritual roots in the face of almost unsurmountable obstacles is both a strength and a weakness. For centuries they have clung to their faith and rejected assimilation in a remarkable process of cultural retention. However, it was this very endogenism that is fatally leading to an extinction only one generation away...


(Lashon...Vol.5 //March/April 1993)

Extracted from Food and History

Alheiras, a yellowish sausage from Trás-os-Montes, served with fried potatoes and a fried egg, have an interesting story. In the late fifteenth century King Manuel of Portugal ordered all resident Jews to convert to Christianity or leave the country. The King did not really want to expel the Jews, who constituted the economic and professional élite of the kingdom, but was forced to do so by outside pressures. So, when the deadline arrived, he announced that no ships were available for those who refused conversion -- the vast majority -- and had men, women and children dragged to churches for a forced mass baptism. Obviously, most Jews maintained their religion secretly, but tried to show an image of being good Christians. Since avoiding pork was a telltale practice in the eyes of the Inquisition, conversos devised a type of sausage that would give the appearance of being made with pork, but really only contained heavily spiced game and chicken. Nowadays, however, tradition has been broken, and pork has been added to the alheiras.

Jewish influence may have determined some other practices in food preparation and eating habits. Different kinds of unleavened bread and cakes, such as the arrufadas de Coimbra, are baked all over Continental Portugal and the Azores. In the islands meat is often repeatedly rinsed in water to clean it of any trace of blood. After chickens are killed, they may be hung up upside down, so the blood may be drained, however, paradoxically, it can be used later for cabidela. Blood spilled on the ground is sometimes covered with dirt, as the Leviticus directs Jews to do. Scaleless seafood, such as morays, may be shunned in some areas. And, finally, a point is made of slaughtering animals with a very sharp knife, a practice also exacted by rabbinical law.

RITUALS AND PRACTICES (among the secret Jews of Portugal)

The following is an incomplete list of practices that may be indicative of Jewish origin among anusim in the New World today ...
Told one is Jewish explicitly by parents, grandparents, or other relatives.

Having Jewish family names: Duran, Lopez, etc.
Coming from predominantly anusim villages in Neuvo Reyno de Leon, Santa Fe, San Elisario, etc.
Married los muestros.
Speaking Ladino.

Secret synagogues; secret prayer groups.
Saying: "Hashem (Tetragrammaton) es mi dio"
"El Sabado see el dia la gloria"
Avoiding church.
Churches without icons.


Lighting candles on Friday night.
Clean house and clothes for Shabbat.
Not allowed to do anything Friday night (not even wash hair).
El Dia Puro (Yom Kippur).
Celebrating a spring holiday.
Fasts: 3 days of Taanit Esther; every Monday and Thursday.
Venerating Jewish saints, with celebrations: Santa Esterika, Santo Moises, etc.
Eight candles for Christmas.

Circumcision; consecration on eighth day (avoiding circumcision because that would bind child to the laws of Moses).
Biblical first names, like Esther.
Women taught Tanakh and ruled on questions.
Married under "huppah."
Rending of garments; burial within one day; covering mirrors; spigots in cemetaries.
Seven days, then one year, of mourning.
Tombstones bearing Hebrew names and Jewish symbols.

Posessing talit and tefillin, mezuzot, Tanakh, siddurim, other Jewish objects.
Sweeping the floor away from the door.
Possessing kabbalistic knowledge and practices.

Ritual slaughter (special knives, tested on hair or nails); covering blood; removing sinew.
Purging, soaking, salting meat.
Avoiding pork (called "unclean" "marrano") and shellfish.
Avoiding blood; throwing out eggs with bloodspots.
Avoiding red meat in general.
Waiting between meat and milk.
Ate only food prepared by mother of maternal grandmother.

Note: In addition to the practices noted above, Professor Dias has contributed the following ...


By Professor Eduardo Mayone Dias
Dept. of Spanish and Portuguese
U. C. L. A.
Los Angeles, California 90024


BIRTH RITUALS
To place a rooster's head over the door of the room where the birth will occur.
After the birth the mother must not uncover herself or change clothes for 30 days.
To throw a silver coin in the baby's first bath water.
To say a prayer eight days after birth in which the baby's name is included.


WEDDING RITUALS
To fast on the wedding day (both bride and groom, as well as two male friends of the groom and two female friends of the bride.
To bind the bride and groom's hands with a white cloth while a prayer is said.
To follow the wedding ceremony with a light meal consisting of a glass of wine, salt, bitter herbs, honey, an apple, and unleavened bread.
At the wedding ceremony bride and groom eat and drink out of the same plate and glass.


FUNERAL RITUALS
To have ritual meals to which a beggar is invited and serve the food the deceased liked best.
To throw away all water in the home of the deceased.
To go to the deceased's room for eight days and say: "May God give you a good night. You were once like us, we will be like you."
Not to shave for 30 days after the death of a relative.
Not to eat meat for one week after a death in the family, then fast on the third and eighth day and once every three months for one year.
To make the deceased's bed with fresh linen and to burn a light by it for one year.
To keep the deceased's room lit for one week.
To place flour and food around the deceased's bed.
To keep the deceased's place at the table, fill his or her plate and give the food to a beggar.
To purify, (desintreflar, from treph) the house after a death (presumably after a priest had entered it for the last rites).
Female relatives cover their heads with a scarf and hide their faces with a shawl.
Say the following prayer:

May G-d save you now
that you passed away
You were alive as we were,
We will be like you.
To heaven where you now are,
Pray to the Lord for us,
In this valley of tears,
We will pray to the Lord for you.
To wash the body with water brought from the fountain in a new container and to dress it in white clothes.
To pass a gold or silver coin over the mouth of the deceased, and then give the coin to a beggar.
To pass a coin and piece of bread over the eyes of the deceased.
To clip the deceased's nails (or at least a couple of them) as well as a few hairs and wrap everything in a piece of paper or cloth.
To place a piece of bread on the deceased's bed and say: "Take it, leave the deceased's soul alone while it crosses the Jordan River."
To give alms at every corner before the funeral procession reaches the cemetery.
To give a beggar a complete suit of clothes and a meal at least during the Sabbath for one year.
To have several lights lit on Yom Kippur eve in memory of the deceased.


DIETARY PRACTICES
A boy should fast for 24 hours before initiation at age seven.
To kiss any piece of bread that falls on the floor.


Professor Dias has given the LusaWeb Comunidade Project permission to featured the above article. He also solicits your input on the subject matter covered in this article.

copyright 1997 E.M.Dias / EMDias@aol.com

Fuente: https://web.archive.org/web/20100707013100/http://www.saudades.org/criptojudeus.html



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